Saturday, February 05, 2005

ENTRE O ECO ESPELHO (1986. Escrito em 1982), (Editorial Peregrinação, Baden)

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CORTEJO DO LITORAL ESQUECIDO (1988. Escrito em 1984 e 1985), (Editorial Vega, Lisboa)

Erich, um holandês, passa férias em Portugal e apaixona-se por Laura. Contudo, Laura não é apenas uma mulher; é, sim, sobretudo um ser mitológico que se funde com o destino profundo de Portugal. A acção é quase toda memorial e passe-se, portanto, muito depois dos eventos que o relato refere. Toda a caminhada de Erich se baseia num regresso a Portugal, na tentativa de procurar, encontrar e redescobrir Laura, depois de ela ter fisicamente desaparecido. A ausência de notícias e a saudade (a “Heimwee”, em Holandês) conduz Erich a uma “quête” sem fim, atravessando sobretudo as topografias de Lisboa e as da metafórica praia de S. Pedro de “Muel”. Por fim, uma verdadeira revelação operática acabará por celebrar o desenlace fantástico do romance: Erich assiste ao desembarque, na costa portuguesa, de um cortejo com os todos os personagens mitológicos da genealogia portuguesa, estando em primeiro plano o Encoberto, D. Sebastião. Ladeando-o e dominando o cortejo, enquanto apelo mítico-feminino dominante, aparece Laura. As figuras deste cortejo são imateriais, de tal modo que Erich tenta auscultar a sua desejada amada, mas não consegue tocar na sua matéria, na sua carne, no seu ser. A esta visão (“Apokalupsis” ou ”Gala”) tudo escapa, afinal, a Erich. Até a frugal compreenssão do amor que, assim, assume foros de um neo-platonismo de que, aliás, o nome de Laura é celebrado símbolo literário.

NO PRINCÍPIO ERA VENEZA (1990. Escrito em 1987 e 1989), (Editorial Vega, Lisboa)

Romance de viagens, de retornos, de atmosferas exóticas: o Médio Oriente, a Palestina e o Egipto, Jerusalém e Milão. Livro de factos e aventuras singulares seguindo sempre a isotopia ou, se se quiser, as andanças de uma Maria oriental vinda a Veneza a partir de Alexandria onde ainda a aguarda, em frustrada espera, o amor congénito de um Ahmed que, na noite anterior, com ela dormira, enquanto o fantasma do mítico Alexandre representava, em sonho, histórias de conquistas orientais. Tudo isto se passa quase na véspera da chegada de Maria a Veneza, onde agora ela se encontra à beira do Canale della Giudecca para obedecer ao chamamento ambíguo, mortal e erótico de uma Flora que a espera no predestinado Hotel des Bains do Lido e que, por ela, procurará a morte nas águas da laguna.
Mitos de Veneza e mitos de mortes em Veneza revisitada em nome de um inconsciente e ambíguo Tadzio e de um envelhecido Gustav Von Aschenbach, perseguidos nas ruas douradas, crepusculares e já atingidas pela cólera, por um escritor que ama Veneza, até mesmo por este literário e refinado odor de morte. E é assim que o último desencontro de Antonioni e Maria, ele num quarto de hotel, em Milão, e ela numa cama distante, em Tel Aviv, parece simular a união ideal dos dois, embora agora a bordo de um sonho de olhos abertos, como se estivessem de novo juntos "sem sabê-lo, numa navegação ao sabor de uma miragem comum". É talvez a metáfora da consciência aqui atingida por Luís Carmelo, nesta sua recordação-homenagem feita de palavras à cidade da sua saudade. Talvez por Veneza ser, como a vida, apenas e sempre um sonho.
(Luciana Stegagno Picchio)

SEMPRE NOIVA (1996. Escrito em 1989, 1990 e 1995)

Sempre Noiva, mais do que um corpo amado e perfeito, é antes a metáfora de uma demanda, o sentido de uma procura algo obsessiva. A essa demanda se entraga um visionário, um fotógrafo e uma actriz, cujas vidas se tornam a cruzar numa cidade luminosa, branca e errante como a beleza. Para além do cenário do quotidiano que este romance entende como um desconcerto sem norte, o que em toda a história persiste é o mistério. Ou antes: o rosto da Sempre Noiva, para quem o destino é o vislumbramento.
Quarto romance de Luís Carmelo, após uma pausa de alguns anos, Sempre Noiva retoma dos anteriores a poética da viagem, a cidade como personagem, a vida como um lugar interior de permanente disputa e revelação. No entanto, pela primeira vez, a trama devolve-nos o pano de fundo de uma cidade portuguesa e, às habituais paisagens dominadas pela água (simbolizadas sobretudo por Amesterdão e Veneza), contrapõe-se agora a memória da terra e a imaginação das origens.

A FALHA (1998. Escrito em 1996), (Editorial Notícias, Lisboa)

Vinte e cinco anos depois de ter acabado o curso dos liceus, um grupo de antigos alunos decide encontrar-se no Alentejo para confraternizar. À hora marcada tudo conflui no mesmo lugar: a memória truncada, a ausência pressentida, as delongas de conversa e um banquete como pretexto. Discursos, olhares espiatórios, velhas disputas e tentações num único rol de encantos perdidos. A tarde desse dia de Outono, contudo, reservaria ainda duas surpresas cuidadosamente preparadas pelos anfitriões do encontro. A primeira, uma simples prova de vinhos nas caves de uma conhecida adega; a segunda, a visita a uma gigante pedreira de mármore localizada perto de Vila Viçosa. Neste último lugar tudo se precipita a determinada altura.
A queda de um imenso bloco de pedra soterra alguns dos presentes que, dentro de uma espécie de gruta, persistirão durante mais de dois dias entre a vida e a morte, entre o delírio e a navegação do impossível, entre a contenção e o confronto com fantasmas antigos. Uma falha desenhada caprichosamente sobre esta espécie gruta parece definir todo o trajecto simbólico e metafórico deste romance. Ou seja: Falha enquanto equívoco, fraqueza, imperfeição ou talvez elementar interrupção do curso normal do quotidiano. Falha, talvez, enquanto irreparável fenda no tempo. O epílogo é, no entanto, auspicioso. Sem darem por isso, na passagem de ano que encerra o milénio, todos os que se haviam encontrado naquela tarde de 1996 para confraternizarem, estão agora de novo juntos. Por mero acaso. Sem jamais se voltarem a ver. A memória, essa, já terá esvaído tudo o resto.

AS SAUDADES DO MUNDO (1999. Escrito em 1997 e 1998), (Editorial Notícias, Lisboa)

As Saudades do Mundo constitui um verdadeiro tríptico de viagens onde acabam por filtrar-se memórias, tensões, deslumbramentos e alguns dos grandes augúrios e sobretudo equívocos do século XX. Na primeira dessas três viagens, em 1947, Laura e Roberto iniciam a sua nova vida dirigindo-se do Pacífico para Lisboa, a bordo de um navio criado pela ficção de Malcolm Lowry em Through the Panama (novela de Hear Us O Lord From Heaven Thy Dwelling Place). Na segunda das viagens, em 1967, os mesmos personagens e a sua filha já adolescente, Cláudia, partem de Tomar, o coração de Portugal, onde aliás habitam, e deixam-se conduzir até aos mares algarvios. Na terceira das viagens, em 1987, vinte e quarenta anos depois das anteriores, Cláudia, sozinha, deslocar-se-á a Jerusalém com o objectivo de desencantar os fios de um destino, ainda em grande parte por descobrir e reacertar.
Do Atlântico ao Mediterrâneo; das Caraíbas às falésias de Sagres; de Limoges a Nova Iorque; ou de Lisboa e Tomar ao Médio Oriente, os cenários e a trama evocados em As Saudades do Mundo, enredando ficção e realidade, irão, em última análise, debater-se com os frutos da guerra; com as venturas do amor; com as frágeis ilusões do século que agora acaba e, por fim, com a própria solidão, quase exílica, do homem moderno. Embora respirando saudade, este romance não trata do reatar de um qualquer paraíso perdido, mas antes do descobrimento do mundo presente, ou seja, da arena sempre actual da nossa vida.

O TREVO DE ABEL (2001. Escrito em 1999 e 2000), (Editorial Notícias, Lisboa)

O Trevo de Abel conta a história de um homem que vive três vidas sem saber porquê. Não se trata de magia, de reencarnação, ou de fantasmagoria. Apenas isso: um homem vive três vidas, sem explicação alguma, e tenta sobreviver a esse facto inusitado contra tudo e contra todos.
Na primeira vida, é apresentador de concursos e campeão de audiências televisivas. Na segunda vida, ressurge na figura de chulo azarado, apaixonado e vingativo. Na terceira vida, é o ofício de taxista, na vila de Belas, o que lhe acaba por bater à porta. Adão, Caím e Abel são os três nomes desse personagem que é cultor de uma aventura singular, narrada à moda de coro grego, em plena noite lisboeta de luminárias. Ao longe, a par do desfecho, no mínimo, imprevisível, Barcelona, Banguecoque e Porto Brandão completam a silhueta misteriosa deste trevo que, ao fim e ao cabo, sempre foi o de Abel.

MÁSCARAS DE AMESTERDÃO (2002. Escrito em 2000 e 2001), (Editorial Notícias, Lisboa)

Entre Arles e Amesterdão imagina-se uma conjura. Há quem fuja, há quem viaje e há quem procure. Entre Paris e Amesterdão forma-se uma teia criminosa. Há quem traia, há quem ame e há quem se perca. Entre Lisboa e Amesterdão desenha-se a ideia de uma vida. Há quem evoque, há quem celebre e há afinal quem se inicie. Neste círculo de máscaras, entre canais, nevoeiros e a interminável obsessão de um filme que nunca mais acaba, o delírio e o quotidiano fundem-se numa trama muito aberta que apenas se desvenda no final. Talvez seja um policial poético, um thriller irrespirável, ou um romance contemporâneo de costumes.
De qualquer modo, Máscaras de Amesterdão, na linha dramática de A Falha e com elementos que fazem das cidades verdadeiras personagens, tal como já acontecera, por exemplo, em No Princípio era Veneza, em As Saudades do Mundo ou em O Trevo de Abel, é um romance muito vivo, imprevisível e sempre na demanda de um mistério.

O INVENTOR DE LÁGRIMAS (2004. Escrito em 2003 e 2004), (Editorial Notícias, Lisboa)

Júlio Caldas apaixona-se pela professora, a bela Helena, e acaba por vir com ela para Lisboa. Sol de pouca dura. Segue-se uma longa travessia do deserto deste diligente funcionário das finanças que, um dia, tem a genial ideia de manipular quatro casamentos através de anúncios de jornal. O seu e o de três amigos. As peripécias então divergem: de um lado, o traçado de uma vida cheia de coincidências e memórias mal resolvidas; do outro lado, o lento rol de traições e congeminações. A certa altura, Júlio Caldas descobre-se secretamente como assassino, ainda que a lei o considere não culpado. Os quatro casamentos esvaem-se de um dia para o outro e Júlio torna-se num foragido e refugiado a braços com diferentes identidades falsas. Por fim, a perseguição policial associar-se-á a um imprevisto e singular happy end.


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