Monday, October 25, 2004

Regresso a Tomar - 2 (11/11/1998)



Como que a rastejar pela calçada, imagino hoje ainda o nevoeiro ancestral, tão próprio da urbe de Gualdim Pais, a descer sobre o rio, desde a Rua Everard até ao edifício do Banco de Portugal. É no meio dessa melodia rara que finalmente reentro na Corredoura e dou comigo a olhar para as antigas montras da Havaneza, alheio à figuração dos cisnes que sobem pela fachada de azulejos da livraria.
Por cima, a mata está encoberta por esta massa de água suspensa, saturada, doando ao vale o sortilégio da sua humidade e a liquidez de todo o seu sigilo. Imaginar-me-ia a sorrir. Como se fechasse os olhos, depois de ter encarado mais uma vez a cenografia que cresce entre o edifício da Câmara Municipal e o Castelo dos Templários. Ciprestes, álamos, cedros e plátanos misteriosos recobrem esta vista desmedida com que a rua, em cima, se esfuma ou se transfigura. E assim continuarei a sorrir, porventura do nada, enquanto piso o calcário quase rosa do passeio. As saudades são este rumor sem rosto, este desígnio sem finalidade, este apego sem âncora.

1 Comments:

Blogger hfm said...

Este post trouxe-me o cheiro da meninice e da adolescência quando em Julho andava por Santa Cita aí a uns 15 km de Tomar.

Tomar - o Mouchão, a Corredoura (e as compras), o Castelo e porque não? - os meninos do colégio!

Com amargura ainda me recordo da prisão no edifício da Praça e por trás das grades, a sério, de ferro preto, os presos e o seu ar.

Um abraço

hfm
http://linhadecabotagem.blogspot.com

1:38 AM  

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